Tenho todos os sonhos do mundo dentro de mim. Vejo as luzes da cidade se apagando, uma a
uma. A noite vai passando e eu continuo não me encontrando. É como se tudo que
eu fui, tudo que eu sou, tudo que eu quero ser se fundissem dentro de mim de
forma unilateral.
Busco por respostas em rostos estranhos. Continuo numa busca
sem fim, nunca encontro muitas respostas. Cada dia tenho mais dúvidas.
Quem eu sou, aonde quero chegar? Por que estou aqui? Por que isso acontece
comigo? O que eu realmente quero da vida?
Sinto o vento passar por mim e ele me traz uma doçura
inesperada. Sinto esperança por alguns segundos. Brindo `a mim mesma, ao meu
descaso, aos dias que passam sem sinal de melhora e `a tudo que desejo
intimamente.
Me apego muito ao que não posso ter. Me parece ser uma saída
mais fácil. Menos comprometedora, menos previsível. Mas no dia seguinte sou
tomada por questões que me tiram o sono. Sou apenas mais uma peça de um jogo
voraz, sou parte de um sonho sonhado por alguém, mera imaginação. As noites em
claro muitas vezes compensam, e o fato de acreditar que somos únicos me conforta, (até certa hora).
Queria ser o sonho principal, queria ser o fôlego sendo
exaurido no beijo .Queria ser a música que nunca foi tocada, queria ser a chuva
molhando a pele suada, queria ser o
primeiro sinal que o dia está amanhecendo e queria realmente demonstrar que não existe hora nem lugar pra ser feliz e
fazer alguém feliz.
Vivemos uma vida de clichês, datas, horas, compromissos,
padrões... Será que algum dia estaremos preparados para nos perder? Nos deixar
levar pelo momento? Nos deixar levar por uma simples e leve sensação de que
nada volta? De que cada momento é único
e deveria ser eterno?
Mais alguém sonha meu sonho? Mais alguém quer se sentir
livre mesmo tendo o peso do mundo nas costas? Seguindo padrões, estrelas
perdidas, horas que passam desenfreadas
por relógios cansados?
Não , não, eu não devo ser a única. Não posso ser...Existe
muito mais além de nossos abraços
cansados, existe muito mais além do que nos contaram quando éramos crianças.
Existe uma vida esperando por nós, esperando que tenhamos a coragem necessária
para fazer acontecer. Se vai ser hoje, se vai ser amanhã, não sei. Fecho meus
olhos por alguns segundos e consigo sentir, imaginar tudo que poderia ter sido
e não foi, por medo. Um medo que vem me
visitar nas madrugadas em claro. E posso garantir, elas tem sido muito
frequentes.
Eu enfrento a minha loucura com paixão e com a certeza de que,
cedo ou tarde, aqui ou em outro lugar, alguém vai conseguir me entender e vai
conseguir ver o que existe além desse olhar misterioso.
Esse “eu” , tem sido guardado há tempo. Quem sabe um dia,
quem sabe em algumas horas, quem sabe na próxima semana “ele” apareça...não
sei, o tempo não me pertence. E meu destino, tão desgrenhado, quem sabe , possa
transcender tudo que escrevi até agora.
Por enquanto, me basta essa página sendo escrita, a música
que toca ao fundo e o silêncio avassalador da madrugada que está passando.
Estou só...